segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Relato de experiência sobre o "Fazendo Gênero"


O texto a seguir foi produzido pela doutoranda Fabiane Freire França, orientanda da profª Drª Geiva Carolina Calsa, acerca do Fazendo Gênero, evento que ocorreu em Florianópolis de 16 a 20 de setembro de 2013.


O evento foi muito bem organizado e nos possibilitou muitas contribuições e apresentações sobre as mais diversas pesquisas de gênero. Logo no primeiro dia participei do simpósio Gênero, Raça e Corporalidade como apresentadora do artigo “Pedagogias culturais da corporeidade negra em revista”. O artigo foi produzido pelo amigo e colega de grupo Delton Felipe e teve a minha contribuição como co-autora. 
Neste simpósio, a professora debatedora Sonia Maria Giacomini destacou a relevância das pesquisas apresentadas e das ênfases nos “escapes” e resistências ao paradigma hegemônico.


Optamos, minha orientanda de PIC e eu, por assistir o simpósio Gênero, diversidade e sexualidade no campo da Educação. Os trabalhos apresentados evidenciaram a escola como um possível espaço de reconhecimento das diferenças. A ideia seria romper com os silenciamentos e invisibilidade dos sujeitos da diferença, trazê-los à tona para exporem seus pontos de vistas. De outro lado problematizações foram levantadas nos debates, por mim e por outras colegas: “Seriam os/as professores/as responsáveis pelo 
silenciamento e invisibilidade do outro? Será que os/as docentes e a instituição escolar devem dar conta de tudo?”. Algumas das apresentadoras evidenciaram que realmente não se pode culpabilizar docentes e escola, mas é preciso reforçar que todas/os nós somos responsáveis pela abordagem dessas discussões. 

Foram ainda apresentados alguns dos resultados dos cursos de Extensão de Gênero e Diversidade na Escola (GDE) produzidos por instituições federais e estaduais que têm o apoio financeiro do Ministério da Educação e Cultura. Um dos resultados foi o livro “Tecendo gênero e diversidade sexual nos currículos da educação infantil”, organizado pela professora Claudia Maria Ribeiro da UFLA. O artigo apresentado pelas autoras Kátia Martins, Andrêsa de Lima e Luciene Silva consta no livro e foi apresentado no referido simpósio. Ao estabelecer diálogos com o grupo recebi de presente o livro.




No quarto dia de evento participamos da mesa redonda Transfeminismo no Brasil. Um tema novo abordado de forma polêmica e brilhante pela professora Jaqueline Gomes de Jesus (Universidade de Brasília) que logo no inicio se intitulou como feminista, negra e trans, em busca de empoderamento das pessoas trans. Conceitos como transfobia, cisgêneros e cross-dressing, foram abordados de forma bastante interessante pelas palestrantes e debatedores/as.



Retornando ao simpósio Gênero, diversidade e sexualidade no campo da Educação, mais uma vez nos deparamos com pesquisas, semelhantes as nossas, com a tentativa de colocar as teorizações de gênero em prática. Uma das simposistas apresentou uma pesquisa sobre o deslocamento da “disciplina” da educação física em uma perspectiva queer. Na abertura das discussões o próprio debatedor questionou se a intenção não seria uma “queerização” do currículo, e este processo seria totalmente o oposto a uma perspectiva queer, afinal, o sujeito queer é estranho, não é capturado, tampouco categorizado e classificado, o mesmo ocorre com a teoria queer, é aquela que escapa das estruturas, questiona, problematiza, não se fixa, não se restringe à disciplina.


Outro trabalho que gerou maiores problematizações foi sobre a escolarização da sexualidade e políticas públicas nas Secretarias de Educação e Saúde de Goiânia/Go. As autoras apresentaram dados quantitativos e qualitativos e evidenciaram a produção de políticas de gênero nas instituições goianas. O professor debatedor questionou “As políticas públicas estão aí, e agora José? Interessante que a maioria das falas evidenciou que as políticas públicas chegam às escolas de forma “amarrada”, são os/as agentes das escolas que poderão desenvolver estratégias e manter o debate, manter a tensão neste espaço escolar, o que possibilita maiores diálogos. E no fim deste simpósio ganhei mais um livro chamado Educação sexual em Goiás, das autoras Lara Araújo, Aline Nicolino e Patrícia Oliveira.
A mesa redonda: Gênero e diversidade na escola, experiências e práticas pedagógicas na formação de professores/as da Educação Básica foi iniciada pelo coordenador geral dos Direitos Humanos Fábio Meirelles. O coordenador assinalou que a Resolução CNE/CP nº 2012 exige das secretarias estaduais, municipais e da educação superior a abordagem da diretriz de direitos humanos. Apresentou os dados dos cursos de GDE promovidos pelas IES, o apoio e fomento oferecidos pelo MEC e dados quantitativos sobre a aplicabilidade dos projetos e cursos GDE promovidos por Instituições Superiores de forma online a professores/as da educação básica. A professora Miriam Grossi (UFSC) debateu sobre o impacto das políticas e dos investimentos conferidos pelo MEC, sugeriu maiores investimentos na formação inicial de Pedagogos e Pedagogas e evidenciou que não basta termos boas teorizações sobre gênero é preciso colocá-las em prática e contribuir com o MEC com o nosso compromisso ético. Na sequência nossas fotos com o coordenador geral dos Direitos Humanos Fábio Meirelles e com a professora Miriam Grossi da UFSC.
















O último dia de evento foi o mais difícil, selecionar entre as discussões de Richard Miskolci, Margaret Rago ou dar continuidade no simpósio sobre Gênero e Diversidade foi tenso, bem, um evento de tensões, geram tensões. Por isso no primeiro horário prestigiamos os trabalhos sobre “Direitos humanos: desafios contemporâneos envolvendo gênero, sexualidade e outros marcadores sociais das diferenças com a coordenação Miskolci e Reis. Um dos trabalhos apresentados que nos chamou a atenção foi o de Eliana Quartiero que questionou “os direitos humanos chegam ao interior?”. A simposista evidenciou que em sua pesquisa de doutorado sobre os cursos de GDE percebeu o estranhamento e embate de professores/as de cidades grandes com os professores/as de cidades pequenas.



Os professore/as de cidades pequenas ratificaram que “eles vem nos ensinar como devemos ser”, se referindo aos professores/as de cidades grandes e do Ensino Superior. Considerou que a academia é também uma escola e que precisamos romper com as dicotomias entre universidades e escolas. Sobre tais considerações destacamos as relações de poder que foram construídas nestas e por estas instituições e portanto, necessitam ser repensadas e dialogadas.

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